As canseiras desta vida
letra e música de José Mário Branco
arranjo de Rubina Oliveira e coro da Achada
As canseiras desta vida
Tanta mãe envelhecida
A escovar, a escovar
A jaqueta carcomida
Fica um farrapo a brilhar
Cozinheira que se esmera
Faz a sopa de miséria
A contar, a contar
Os tostões da minha féria
E a panela a protestar
Dás as voltas ao suor
Fim do mês é dia 30
E a sexta é depois da quinta
Sempre de mal a pior
E cada um se lamenta
Que isto assim não pode ser
Que esta vida não se aguenta
O que é que se há-de fazer?
Corta a carne, corta o peixe
Não há pão que o preço deixe
A poupar, a poupar
A notinha que se queixa
Tão difícil de ganhar
Anda a mãe do passarinho
A acartar o pão pró ninho
A cansar, a cansar
Com a lama do caminho
Só se sabe lamentar
Dás as voltas ao suor
Fim do mês é dia 30
E a sexta é depois da quinta
Sempre de mal a pior
E cada um se lamenta
Que isto assim não pode ser
Que esta vida não se aguenta
O que é que se há-de fazer?
É mentira, é verdade
Vai o tempo, vem a idade
A esticar, a esticar
A ilusão de liberdade
Pra morrer sem acordar
É na morte ou é na vida
Que está a chave escondida
Do portão, do portão
Deste beco sem saída
Qual será a solução?
Dás as voltas ao suor
Fim do mês é dia 30
E a sexta é depois da quinta
Sempre de mal a pior
E cada um se lamenta
Que isto assim não pode ser
Que esta vida não se aguenta
O que é que se há-de fazer?