Letras

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Imponderáveis inevitáveis

Imponderáveis inevitáveis
2022


Inflação é natural
como as flores do quintal

O dinheiro é uma abstracção
que se tem no bolso ou não

Só a competir é que valho
tenha ou não tenha trabalho

Refrão (3 vozes):

1 O Capital é bestial
2 Diguidiguidão…
3 São inevitáveis os imponderáveis

Nas margens de lucro não se toca
ai, que larica, de boca em boca

Quando a economia arde
vem a bombeira lagarde

Dizer que as taxas de juro
devem subir no futuro

O telejornal suave mente
pra não assustar a gente


Refrão

(depois juntam-se todos em) Digo digo digo não não não…

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Nhavokaurê

Nhavokaurê
(canção En el pozo invertida, criada para filme «Raiva», de Sérgio Tréfaut, nunca utilizada)


La la la lia
La la la lia

é uu nhé fuvokarê
a lébruié nhavokaurê

1
a uébruié min
xuca iée urgá

2
a ué bámá ran
xuca iée gacê

3
a ué baié ran
avu íi rramin

4
a ué bama ran
sukiu góoragô

Canção doce

Canção doce
(Pedro Rodrigues)

Se eu tivesse condições
pra cantar outras canções

Se o horário de trabalho
sem redução de salário
nos mudasse as condições

Se a raiva da servidão
não me enrouquecesse a voz

E a cólera que tenho
por causa da injustiça
tamanha desaparecesse

E mesmo que assim não fosse
haveria canção doce
pra afinar a alegria?

Então eu cantaria

Se tu gostasses de mim
ao menos assim assim

Se houvesse tempo pra amar
e não só pra repetir
a receita da amargura

E mesmo que assim não fosse
haveria canção doce
pra afinar a alegria?

Então eu cantaria

A Batalha (hino revolucionário)

 A Batalha




Monedita

Monedita
letra de Antonio Machado (Consejos)
cânone

Moneda que está en la mano
quizá se deba guardar:
la monedita del alma
se pierde si no se da

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

El Carbonero

 El Carbonero
(coro Dominguero de Sevilla)


Madre, mi carbonero no vino anoche
y le estuve esperando hasta las doce.

Carbón, carbón, carbón
carbón de encina y picón,
carbón de encina, picón de olivo,
niña bonita, vente conmigo.

Madre mi carbonero vino de Vélez
y en el sombrero trae cuatro claveles.

Carbón, carbón, carbón
carbón de encina y picón,
carbón de encina, picón de olivo,
niña bonita, vente conmigo.

Lleva mi carbonero en el sombrero
un letrero que dice: por ti me muero.

Carbón, carbón, carbón
carbón de encina y picón,
carbón de encina, picón de olivo,
niña bonita, vente conmigo.



Le chant des ouvriers

Le chant des ouvriers
Pierre Dupont, 1846

Nous dont la lampe, le matin,
Au clairon du coq se rallume,
Nous tous qu’un salaire incertain
Ramène avant l’aube à l’enclume,
Nous qui des bras, des pieds, des mains,
De tout le corps luttons sans cesse,
Sans abriter nos lendemains
Contre le froid de la vieillesse,

Aimons-nous, et quand nous pouvons
Nous unir pour boire à la ronde,
Que le canon se taise ou gronde,
            Buvons,
À l’indépendance du monde !

Nos bras, sans relâche tendus,
Aux flots jaloux, au sol avare,
Ravissent leurs trésors perdus ;
Ce qui nourrit et ce qui pare :

Perles, diamants et métaux,
Fruit du coteau, grain de la plaine ;
Pauvres moutons, quels bons manteaux
Il se tisse avec notre laine !

Aimons-nous, etc.

Quel fruit tirons-nous des labeurs
Qui courbent nos maigres échines ?
Où vont les flots de nos sueurs ?
Nous ne sommes que des machines.
Nos Babels montent jusqu’au ciel,
La terre nous doit ses merveilles :
Dès qu’elles ont fini le miel,
Le maître chasse les abeilles.

Aimons-nous, etc.

Mal vêtus, logés dans des trous,
Sous les combles, dans les décombres
Nous vivons avec les hiboux
Et les larrons amis des ombres ;
Cependant notre sang vermeil
Coule impétueux dans nos veines ;
Nous nous plairions au grand soleil,
Et sous les rameaux verts des chênes.

Aimons-nous, etc.

À chaque fois que par torrents
Notre sang coule sur le monde,
C’est toujours pour quelques tyrans
Que cette rosée est féconde ;
Ménageons-la dorénavant,
L’amour est plus fort que la guerre ;
En attendant qu’un meilleur vent
Souffle du ciel ou de la terre,

Aimons-nous, etc. 

Luisinha

Luisinha
(popular alentejana)

Se queres que cante bem 
Ó Luisinha 
Dá-me pinguinhas de vinho 
Ó Luisinha tu és minha és minha 

O vinho é coisa santa 
Ó Luisinha
Faz o cantar miudinho 
Ó Luisinha tu és minha és minha 

E anda cá se queres água 
Ó Luisinha 
Que os meus olhos te darão 
Ó Luisinha tu és minha és minha 

E o meu coração e o teu 
Ó Luisinha 
Unidos fazem um só 
Ó Luisinha tu és minha és minha 

A la huelga

A la huelga
versão de Chicho Sánchez Ferlosio (1963)

A la huelga compañero
No vayas a trabajar
Deja quieta la herramienta
Que es la hora de luchar

A la huelga diez, a la huelga cienA la huelga, madre, yo voy tambiénA la huelga cien, a la huelga milYo por ellos, madre, y ellos por mí
Contra el gobierno del hambreNos vamos a levantarTodos los trabajadoresCodo a codo con el pan
A la huelga diez, a la huelga cienA la huelga, madre, yo voy tambiénA la huelga cien, a la huelga milYo por ellos, madre, y ellos por mí
Desde el pozo y la besanaDesde el torno y el telar¡Vivan los hombres del puebloA la huelga federal!
A la huelga diez, a la huelga cienA la huelga, madre, yo voy tambiénA la huelga cien, a la huelga milYo por ellos, madre, y ellos por mí
Todos los pueblos del mundoLa mano nos van a darPara devolver a EspañaSu perdida libertad
A la huelga diez, a la huelga cienA la huelga, madre, yo voy tambiénA la huelga cien, a la huelga milYo por ellos, madre, y ellos por mí

Lá vem o dono do circo

Lá vem o dono do circo (cânone)
Pedro Rodrigues

Lá vem o dono do circo
Vem dizer que está na hora
de o espectáculo começar
E que toda a gente deve sentar-se no seu lugar
E que toda a gente deve sentar-se no seu lugar

Vente rapasa

Vente, rapasa
poema de Rosalía de Castro (de Cantares gallegos, 1863)
música de Pedro Rodrigues

I
Vente, rapasa,
vente, miniña,
vente a lavar
no pilón da fontiña.

Vente, Minguiño,
Minguiño, vente;
douche si non
polo demo do dente.

¡Qué augua tan limpa!
¡Qué rica frescura!
Vente a lavar,
que é o primor, criatura.

Válganos Dios,
que si auguiña n'houbera,
lama este corpo
mortal se volvera.

Vinde a lavarvos,
andá lixeiriños,
a cara pirmeiro,
dimpóis os peíños.

Ai, ¡qué miniña!
¡Qué nena preciosa!
Dempois de lavada
parese unha rosa.

I este miniño
que teño no colo,
dempóis de lavado
parece un repolo.

¡Ai!, ¡qué tan cuco!
¡Ai!, ¡qué santiño!
Ven ós meus brazos,
daréiche un biquiño.

¡Olliños de groria!
¡Cariña de meiga!
¡Apértame ben,
corasón de manteiga!

Corre, corre
a que Antona te peite;
corre, daráche
unha cunca de leite.

Corre, corre,
a teu pai, Mariquiña,
que como cebola
con pan e sardiña.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Uns vão bem e outros mal

Uns vão bem e outros mal
letra e música de Fausto (editada no disco Madrugada de Trapeiros, 1977)

Senhoras e meus senhores, façam roda por favor
Senhoras e meus senhores, façam roda por favor, cada um com o seu par

Aqui não há desamores, se é tudo trabalhador o baile vai começar.
Senhoras e meus senhores, batam certos os pezinhos, como bate este tambor
Não queremos cá opressores, se estivermos bem juntinhos, vai-se embora o mandador
Vai-se embora o mandador
Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição
De velhas casas vazias, palácios abandonados, os pobres fizeram lares
Mas agora todos os dias, os polícias bem armados desocupam os andares
Para que servem essas casas, a não ser para o senhorio viver da especulação
Quem governa faz tábua rasa, mas lamenta com fastio a crise da habitação
E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal
Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição
Tanta gente sem trabalho, não tem pão nem tem sardinha e nem tem onde morar
Do frio faz agasalho, que a gente está tão magrinha da fome que anda a rapar
O governo dá solução, manda os pobres emigrar, e os emigrantes que regressaram
Mas com tanto desemprego, os ricos podem voltar porque nunca trabalharam
E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal
Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição
E como pode outro alguém, tendo interesses tão diferentes, governar trabalhadores
Se aquele que vive bem, vivendo dos seus serventes, tem diferentes valores
Não nos venham com cantigas, não cantamos para esquecer, nós cantamos para lembrar
Que só muda esta vida, quando tiver o poder o que vive a trabalhar
Segura bem o teu par, que o baile vai terminar
Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

Filho da esperança

Filho da esperança
letra de Antonino Solmer oferecida ao coro da Achada (2021)
música do coro da Achada

Nasceste nos braços de quem venceu
Nasceste nos braços de quem vingou
Querido filho mais homem do que eu
Filho da esperança
Quando abril chegou

Nasceste na esperança de quem sonhou
Da fé largamente esperada
Na maresia de quem se lançou
Ao lago da água estagnada
Filho da esperança
Quando abril chegou

Vives agora no poder de falar
Ouvir os presos que se soltaram
Não tenhas medo de agora contar
Mesmo quando os cravos murcharam
Filho da esperança
Dos que hão-de voltar

Desfaz a agrura com a tua coragem
Não queiras ser filho da ilusão
Não fiques pela rama não fiques na margem
Luta pelo povo e pelo pão
Filho da esperança
Deste meu coração


Asa, asa

Asa, asa
Caetano Veloso (do disco Jóia, 1975)

Pássaro um
Pássaro pairando
Pássaro momento
Pássaro ar
Pássaro ímpar
Parou pousar
Parou repousar

Pássaro som

Pássaro parado
Pássaro silêncio
Pássaro ir
Pássaro ritmo
Passar voou
Passar avoou

Pássaro par


Sem ter chicote nem vara

Sem ter chicote nem vara
quadras de António Aleixo
música de Pedro Rodrigues

Sem ter chicote nem vara
Manda-me a minha razão
Atirar versos à cara
Dos que me roubam o pão
[3x]

As quadras mal acabadas
Sem terem regra nem norma
São beijos, são chicotadas
Que não sei dar doutra forma
[3x]

A quadra tem pouco espaço
Mas eu fico satisfeito
Quando numa quadra faço
Alguma coisa com jeito


A life on the ocean wave

A life on the ocean wave
letra de Epes Sargent
música de Henry Russell

A home on the rolling deep!
Where the scatter'd waters rave, and the winds their revels keep;
Like an eagle cag'd I pine,
On this dull, unchanging shore;
Oh give me the flashing brine,
The spray and the tempest's roar.

(Chorus)
A life on the ocean wave,
A home on the rolling deep,
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep,
The winds, the winds, the winds their revels keep,
(the winds, the winds, the winds their revels keep).

Once more on the deck I stand,
Of my own swift gliding craft,
Set sail! and farewell to the land,
The gale follows fair abaft!
We shoot thro' the sparkling foam,
Like an ocean bird set free;
Like the ocean bird, our home
We'll find far out on the sea.

(Chorus)
A life on the ocean wave,
A home on the rolling deep,
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep,
The winds, the winds, the winds their revels keep,
(the winds, the winds, the winds their revels keep).

The land is no longer in view,
The clouds have begun to frown;
But with a stout vessel and crew,
We'll say, let the storm come down.
And the song of our hearts shall be,
While the wind and the water rave.
A life on the heaving sea,
A home on the bounding wave.

(Chorus)
A life on the ocean wave,
A home on the rolling deep,
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep,
The winds, the winds, the winds their revels keep,
(the winds, the winds, the winds their revels keep).

Eu vi este povo a lutar (Confederação)

Eu vi este povo a lutar (Confederação)
de José Mário Branco
Música incluída no filme A Confederação – o povo é que faz a história, de Luis Galvão Telles (1977) 

Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam a História na mão

Sob as águas calmas
Um vulcão de fogo
Toda a terra treme
Nas vozes deste povo

Mesmo no silêncio
Sabemos cantar
Povo por extenso
É unidade popular

Somos sete rios
Rios de certeza
Vamos lá cantando
No fragor da correnteza

Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam a História na mão

A fruta está podre
Já não se remenda
Só bem cozidinha
No lume da contenda

Nós queremos trabalho
E casa decente
A carne do talho
E pão p'ra toda a gente

Ai, meus ricos filhos
Tantos nove meses
Saem do meu ventre
Prà pança dos burgueses

Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam a História na mão

Alça, meu menino
Vê se te arrebitas
Que este peixe podre
Só é bom pròs parasitas

Só a nosso mando
É que há liberdade
Vamos lá lutando
P'ra mudar a sociedade

Bandeira vermelha
Bem alevantada
Ai, minha senhora
Que linda desfilada

Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam a História na mão

A galopar

 A galopar
poema de Rafael Alberti (Capital de la Gloria, 1938) 
música de Paco Ibañez (1969)

Las tierras, las tierras, las tierras de España,
las grandes, las solas, desiertas llanuras.
Galopa, caballo cuatralbo,
jinete del pueblo,
al sol y a la luna.

¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!

A corazón suenan, resuenan, resuenan
las tierras de España, en las herraduras.
Galopa, jinete del pueblo,
caballo cuatralbo,
caballo de espuma.

¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!

Nadie, nadie, nadie, que enfrente no hay nadie;
que es nadie la muerte si va en tu montura.
Galopa, caballo cuatralbo,
jinete del pueblo,
que la tierra es tuya.

¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!


Tanto mar

Tanto mar
letra e música de Chico Buarque
Letra original, vetada pela censura; gravação editada em Portugal, em 1975.

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim