Letras

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Maio

letra: Aníbal Raposo (2013-05-01)
música: Pedro Rodrigues


eu canto um maio moço,
um mês que cheire a rosas
vermelhas, orvalhadas,
recentes e viçosas.

um maio de alvoroço,
um maio-mar-de-gente
a liberar o sonho,
erguida, finalmente.

eu canto o maio ansiado,
aquele que há de vir,
um maio renovado,
maio-menino a rir.

um maio desenvolto,
um maio-meio-céu,
maio maduro, solto
desta noite de breu.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Andaluces de Jaén


poema de Miguel Hernándéz (1910-1942), poeta republicano e antifascista espanhol perseguido por Franco, viu os seus versos serem proibidos e censurados. Tentando fugir de Espanha, foi preso na fronteira pela polícia de Salazar e entregue à Guardia Civil. Acabou por morrer na prisão aos 31 anos.
música do grupo musical andaluz Jarcha (1974)

Andaluces de Jaén
Aceituneros altivos,
decidme en el alma, ¿quien?
¿quien levantó los olivos?
Andaluces de Jaén.

No los levantó la nada,
ni el dinero ni el señor,
sino la tierra callada
el trabajo y el sudor.

Unidos al agua pura,
y a los planetas unidos,
los tres dieron la hermosura
de los troncos retorcidos..

Andaluces de Jaén,
Aceituneros altivos,
decidme en el alma, ¿de quien?
¿de quien son estos olivos?
Andaluces de Jaén.

Cuántos siglos de aceituna,
los pies y las manos presos,
sol a sol y luna a luna
pesan sobre vuestros huesos.

Jaén levántate, brava,
sobre tus piedras lunares,
no vayas a ser esclava
con todos tus olivares,

Andaluces de Jaén,
Aceituneros altivos,
decidme en el alma, ¿de quien?
¿de quien son estos olivos?
Andaluces de Jaén.

A greve dos grãos de trigo


letra de Diana Dionísio,
a partir de um texto de Henrique Fèvre com o mesmo título (de 1908)
música da canção "Andaluces de Jaén"

A greve dos grãos de trigo...
Grão rubro numa espiga
Pó branco no moinho
Um centenar forma uma liga
A greve dos grãos de trigo

Somos destinos de impérios
Como se fôssemos ouro
Somos riqueza e a miséria
De quem trabalha como um mouro
Por nós o sangue corre
Há carestia e guerra
O que pedimos é só
Que nos semeiem na terra

A greve dos grãos de trigo...
Grão rubro numa espiga
Pó branco no moinho
Um centenar forma uma liga
A greve dos grãos de trigo

Quantos séculos de pão
De mãos e de pés atados
Cada grão vale um milhão
E querem patentear-nos

Rebelde, festim de insecto
Que o sol nos venha queimar
Um colectivo insurrecto
Não teme semear

A greve dos grãos de trigo...
Grão rubro numa espiga
Pó branco no moinho
Um centenar forma uma liga
A greve dos grãos de trigo

Dimmi bel giovane

sub-intitulado "Exame de admissão de um voluntário à Comuna de Paris"
texto de Francesco Bertelli, 1871
música: anónimo
arranjo: coro da Achada



Dimmi bel giovane
onesto e biondo
dimmi la patria
tua qual'è
tua qual'è

Adoro il popolo
la mia patria è il mondo
il pensier libero
è la mia fe'
è la mia fe'

 La casa è di chi l'abita
 è un vile chi lo ignora
 il tempo è dei filosofi
 il tempo è dei filosofi

 La casa è di chi l'abita
 è un vile chi lo ignora
 il tempo è dei filosofi
 la terrà è di chi la lavora.

Addio mia bella
casetta addio
madre amatissima
e genitor
e genitor

Io pugno intrepido
per la comune
come Leonida
saprò morir
saprò morir

 La casa è di chi l'abita...

 La casa è di chi l'abita...

Francesco Giuseppe Bertelli nasceu em Vecchiano (Pisa) 1 de Fevereiro de 1836. Voluntário na Terceira Guerra de Independência (1866). Tenente garibaldino em Mentana (1867). Segue Garibaldi para Francia na guerra Franco-Prussiana. Depois dos acontecimentos da Comuna de Paris volta a Vecchiano (1871). Em Vecchiano promove a constituição da "Unione Democratica Sociale". Sempre vigiado pela polícia, é preso repetidamente por fazer propaganda considerada "subversiva". Em 1875 é preso, surpreeendido a distribuir cópias da sua poesia contra a pena de morte. A experiência francesa e os ecos da tragédia dos communards toca-o profundamente e como testemunho escreve uma célebre poesia intitulada “Esame d’ammissione del volontario alla Comune di Parigi” ("Exame de admissão de um voluntário à Comuna de Paris") da qual resta na memória local de Vecchiano uma redução livre do título “Dimmi bel giovane”. Escreveu muita poesia, em parte perdida.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Crack!


a partir de Crack delle banche (Crash dos bancos)
canção italiana de U. Barbieri, versão original de 1896


Tentei a minha sorte no casino - crack!
Meti a ficha d'oiro e a alavanca - crack!
A máquina parecia avariada
E desta vez também não saiu nada

Mas cai este senhor
Com sentido de humor
Dizia que ganhava
Perdendo o que roubava

Assim é que é
Batata faz puré
Já é comendattori
Quem gama ao pontapé

E antes da roleta com salsichas - crack!
Máquinas e póquer com bolachas - crack!
O comendador deu-me a receita:
"Basta comprar a ficha perfeita"

E cai este senhor
Com sentido de humor
Dizia que ganhava
Perdendo o que roubava

Assim é que é
Batata faz puré
Já é comendattori
Quem gama ao pontapé

E antes do fatal rien ne va pluzi - crack!
Lancei a penúltima cartada e  - bluff...
Servi-lhe um acepipe de ganância
Que ficou entalado na gargância

E cai este senhor
Com sentido de humor
Dizia que ganhava
Perdendo o que roubava

Assim é que é
Batata faz puré
Era o comendattori
Que gamava ao pontapé

domingo, 17 de março de 2013

Besta Redonda



Besta Redonda (Beast Of)
letra: Regina Guimarães
música: Pedro Rodrigues
2013

vejo o contrário às avessas
onde o direito é canhoto
o fraco cai-me no goto
o frágil faz-me promessas

soldadinhos só de chumbo
bailarinas chamuscadas
frutas do terceiro mundo
cantigas pirateadas

vejo o começo de esguelha
o fim vem depois da meta
o fardo não me faz velha
o fundo cheira a gaveta

o rei vai nu felizmente
o monstro a bela seduz
o espelho à rainha mente
no bosque há sempre uma luz

vejo de baixo e de cima
descubro por distracção
o que vai de mão em mão
o que vem de rima em rima

branca a neve me derrete
negra a noite me conserva
anões muito mais que sete
borralheira mas não serva

vejo o contrário às avessas
onde o direito é canhoto
o fraco cai-me no goto
o frágil faz-me promessas